Água Clara/MS . 24 de Novembro de 2025

24/11/2025 as 13h50 / Por ()
Vertedouro da usina foi aberto há quase um mês, mas até agora menos da metade das plantas foi despachada rio abaixo
Quase um mês depois de fazer o anúncio de que começou a despachar plantas aquáticas por um vertedouro na hidrelétrica de Mimoso, no Rio Pardo, o lago de 1,5 mil hectares continua longe de ficar livre da infestação.
Imagens mostram que boa parte do lago continua coberta pela vegetação e por conta disso produtores estão tendo dificuldades inclusive de fazer a captação da água para atividades de irrigação de plantações.
O problema, conforme um produtor, é que a vegetação provoca o entupimento das bombas submersas que fazem a captação da água. Nesta segunda-feira, segundo ele, foi a segunda vez que foi forçado a retirar uma das bombas da água para fazer a limpeza.
Em vídeo enviado ao Correio do Estado ele enfatiza que historicamente a água do lago era livre das plantas.
A proliferação das plantas aquáticas está chamando atenção desde fevereiro e é decorrente do excesso de material orgânico, que serve de alimento para o crescimento da vegetação. Até agora, porém, não existe explicação oficial para o fenômeno. Então, mesmo que o vertimento ocorra, elas voltarão a crescer.
Conforme o secretário de meio ambiente, Jaime Verruck, o problema é decorrente da escassez de chuvas ao longo dos últimos meses. De acordo com ele, o surgimento repentino da vegetação não tem elo com o despejo diário de cerca de 180 milhões de litros de rejeitos pela fábrica de celulose da Suzano, que fica a cerca de 40 quilômetros acima da barragem da hidrelétrica.
Os despejos começaram em julho ano ano passado, quando foi ativada a fábrica com capacidade para produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose por ano. A empresa alega que faz o tratamento dos rejeitos de acordo com aquilo que determina a legislação ambiental.
Conforme nota enviada ao Correio do Estado nesta segunda-feira (24) pela Elera Renováveis, proprietária da hidrelétrica, quase metade da vegetação já foi despachada.
"Desde o início do vertimento faseado, em 28 de outubro, foi observada redução gradual das macrófitas aquáticas nas últimas semanas. A área de cobertura dessas plantas no lago passou de aproximadamente 23% para 11%, indicando avanço do processo de eliminação natural induzido pelo aumento controlado do fluxo de água e do processo de vertimento controlado".
A legislação permite que a vegetação cubra, no máximo, 25% do lago. Este percentual, apesar das denúncias de proprietários rurais e de casas de campo espalhadas ao longo do lago, não chegou a ser atingido, segundo a Elera. Atualmente, se as informações da Elera estiveram corretas, apenas 165 dos 1.540 mil hectares estariam tomados pela vegetação.
A controladora diz, ainda, que "a presença remanescente de plantas está concentrada principalmente nas margens, onde a circulação é menos intensa e a dispersão tende a ocorrer de forma mais lenta — o que pode manter, por algum período, a percepção de acúmulo em pontos específicos do reservatório".
Ainda de acordo com a Elera, "o procedimento continua em andamento e as etapas finais do vertimento dependem de condições climáticas e hidrológicas adequadas para garantir segurança e efetividade do processo. A empresa permanece acompanhando a situação de perto e adotará as medidas necessárias até a normalização do lago".
Antes de despachar parte da vegetação rio abaixo, a concessionária "aprisionou" parte das plantas na foz do Ribeirão Serrote e fez a retirada manual em alguns trechos. Com isso, segundo informou, conseguiu evitar que mais de 25% do lago fosse coberto pelas plantas flutuantes.
MISTÉRIO
Indagada sobre um possível elo entre a ativação da fábrica de celulose com repentida proliferação das plantas no lago que existe há 54 anos, a Alera foi evasiva.
"A presença das macrófitas, principalmente as fixas, é natural em sistemas aquáticos e pode trazer benefícios ao ecossistema, como abrigo e alimentação para fauna aquática. O que se observa atualmente na UHE Assis Chateaubriand é o acúmulo significativo de espécies flutuantes", limitou-se a informar a empresa em nota enviada ao Correio do Estado em outubro.
A Elera, gigante do setor de energia, não explicita um possível confronto com a Suzano, gigante da produção de celulose, ou com quem quer que esteja provocando o repentino fenômeno. Mas, a controladora da hidrelétrica não esconde que o excesso de plantas se transformou em um problema.
"Embora a situação esteja sob controle, o acúmulo de macrófitas flutuantes tem gerado impactos operacionais. Algumas plantas ultrapassam as grades de proteção e alcançam o sistema de captação da usina, exigindo limpezas frequentes nos filtros para garantir o pleno funcionamento das turbinas", informou a assessoria da hidrelétrica.
A usina de Mimoso, que está sob a concessão da Elera até 2029, foi criada em 1971. Segundo fazendeiros e proprietários de casas de campo que ocupam suas margens faz décadas, esta é a primeira vez que o fenômeno ocorre no lago, historicamente utilizado para esportes aquáticos e pescarias, que atualmente estão praticamente suspensos.
A represa fica a cerca de 40 quilômetros rio abaixo do local onde está a fábrica de celulose.Toda a água utilizada pela fábrica é retirada do rio e os rejeitos são novamente despejados no leito.
A estação de tratamento de esgoto da fábrica tem capacidade para o tratamento de 9,5 mil metros cúbicos de esgoto por hora (9,5 milhões de litros). Ou seja, diariamente a fábrica capta em torno de 200 milhões de litros de água e 90% disso é devolvido para o rio depois do processo de branqueamento da fibra de madeira..
O volume de água equivale a cerca de 80% de toda a água tratada distribuída em Campo Grande. Quer dizer, a fábrica da Suzano produz quase o mesmo tanto de esgoto que todos os 900 mil habitantes de Campo Grande.
PROMESSA
Na concessão do licenciamento, a empresa se comprometeu a tratar os efluentes para evitar contaminação da água. A própria empresa garante que faz a captação abaixo do local onde ocorre o despejo dos dejetos para demonstrar que estes rejeitos estão corretamente filtrados e purificados antes de serem despejados no Rio Pardo.
Técnicos do Imasul que percorreram ranchos e fazendas da região relataram aos moradores que não descartaram a possibilidade de as plantas serem uma consequência do despejo deste esgoto da fábrica, já que ele é rico em nutrientes (principalmente fósforo) que facilitam o crescimento destas plantas.
Porém, segundo os proprietários, estes mesmos técnicos também destacaram que o rápido assoreamento do lago, que não tem qualquer elo com a fábrica da Suzano, pode ser outro fator determinante que pode estar causando o fenômeno da proliferação acelerada das plantas.
Ao todo, o lago tem 37 quilômetros de extensão e tem capacidade para represar 71,6 bilhões de litros de água, conforme previsão feita à época da inauguração da Usina MImoso, em 1971. Por conta do assoreamento, porém, este volume de água é bem menor atualmente.
Correio do Estado
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