Água Clara/MS . 25 de Novembro de 2025

25/11/2025 as 14h52 / Por ()
Segundo a Agepen, Alliene Nunes Barbosa estava em uma residência diferente da que constava no cadastro
A morte da ex-guarda municipal Alliene Nunes Barbosa, 50 anos, assassinada pelo ex-companheiro Cristian Alexander Cabeza Henriquez, 44 anos, em Dourados, a 251 quilômetros de Campo Grande, expôs um ponto frágil no enfrentamento ao feminicídio, o endereço desatualizado no sistema de monitoramento. A informação foi confirmada pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), responsável pelo controle das tornozeleiras eletrônicas.
De acordo com o órgão, a chamada área de exclusão funciona como uma espécie de escudo digital. A vítima informa onde está residindo, o endereço é inserido no sistema e, a partir daí, o agressor fica impedido de se aproximar num raio de 300 metros. Sempre que o monitorado cruza esse limite, o sistema aciona um alerta. A central telefona primeiro para ele, depois para a vítima e, caso o indivíduo permaneça na região, equipes externas são enviadas para verificar o descumprimento da ordem judicial.
No caso de Alliene, essa engrenagem não operou como deveria. Ela estava em um endereço diferente do que constava no cadastro. Isso permitiu que o agressor entrasse na área de exclusão sem que o sistema percebesse. Nenhum aviso foi emitido e nenhuma ligação preventiva ocorreu. No registro eletrônico, Cristian Henriquez parecia obedecer às determinações da Justiça.

Cristian Alexander no momento em que foi preso pela Polícia Militar (Foto: Leandro Holsbach/Alerta Dourados)
A Agepen destaca que o funcionamento do monitoramento depende da precisão das informações fornecidas pela vítima. Um endereço incorreto ou não atualizado faz com que a tecnologia atue às cegas. Se o dado estivesse correto, o alerta teria disparado assim que o agressor ultrapassasse o limite de 300 metros.
Segundo a agência, manter o endereço atualizado é parte essencial da proteção. A falha, segundo a Agepen, não foi da tornozeleira, mas da distância entre o que constava no sistema e onde Alliene de fato vivia.
O crime - Alliene se tornou a 37ª vítima de feminicídio registrada neste ano em Mato Grosso do Sul. A mulher foi assassinada com 23 facadas por volta de 23h20 de domingo (23), após Cristian invadir a casa onde ela morava com o filho de nove anos, na Vila Sulmat.
O menino presenciou a mãe ser assassinada pelo ex-padrasto. Antes de fugir, o criminoso trancou o portão e deixou o garoto preso na casa, mas o garoto conseguiu fugir e pediu socorro ao vizinho. O homem chamou a Polícia Militar.
Cristian Alexander foi localizado pela Polícia Militar na casa da mãe, na Vila Industrial. Inicialmente, ele confessou ter matado a ex-companheira. Entretanto, em depoimento ao delegado Marcos Werneck Pereira, da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), negou o crime e apresentou versão confusa sobre os fatos.
Antes do feminicídio, o crime mais recente praticado por Cristian contra a ex-companheira e denunciado por ela à polícia ocorreu no dia 5 de outubro deste ano. Já com medida protetiva que o impedia de se aproximar da mulher, ele invadiu a casa dela e a ameaçou. Os policiais tiveram de pular o muro para prender o venezuelano.
A vítima relatou que Cristian chegou por volta das 22h30, arremessou a bicicleta para dentro do quintal, pulou o muro e passou a bater violentamente na porta, ameaçando-a de morte, além de ligar para comparsas, solicitando apoio e armas.
Alliene afirmou ter se escondido para não ser vista, porém o autor persistiu até conseguir avistá-la no interior da casa, momento em que ela ligou para o 190 e solicitou socorro. Segundo ela, não era a primeira vez que ele descumpria a ordem judicial, expedida seis meses antes.
Cristian foi levado para a delegacia e autuado em flagrante por descumprir a medida protetiva e por ameaçar a ex-companheira. O homem alegou que a ex-guarda municipal o havia procurado após ele sair em regime semiaberto e que os dois tinham reatado o relacionamento. Também negou as ameaças.
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